O Paradigma atual
No período recessivo que vivemos, iniciado em 2009 e agravado pela pandemia em 2019, grande parte dos gestores de ativos e infraestruturas procuraram melhorias efetivas e rápidas nos resultados operacionais, que levaram a que as práticas de contratação de serviços fossem normalmente lideradas pelo critério preço, deixando que todos os outros fatores de âmbito de serviço e qualidade fossem secundarizados.
Esta realidade foi prejudicial tanto para quem presta serviços de Facilities como para o cliente. Em relação aos prestadores, coloca-os a todos no mesmo “cesto”, independentemente da eficiência ou qualidade do serviço entregue, em particular quando não há indicadores que evidenciem as diferenças de desempenho entre prestadores. Para os gestores das instalações de edifícios e outras infraestruturas, reduz-se a possibilidade de se definirem parâmetros de controlo dos serviços pretendidos, sem se poder bonificar ou penalizar os prestadores em função dos desvios em relação aos níveis de serviço contratualizados (SLA).
Por outro lado, no processo de determinação do valor das rendas em função das variáveis de mercado, os gestores olham essencialmente para a componente da avaliação do imóvel, mas deviam ter em conta o custo das operações associadas à exploração dos edifícios, os quais são decisivos para se estabelecer a renda, sem prejuízo da rentabilidade esperada.
É neste âmbito que o Facility Management (FM) tem particular importância, nomeadamente na capacidade dos Facility Managers negociarem e gerirem os contratos com eficiência, e de coordenarem equipas de colaboradores que muitas vezes não são suas subordinadas diretas. Em termos técnicos o Facility Manager (FMer) tem de ter um conhecimento abrangente de várias especialidades que lhe permita dialogar com os técnicos especializados e acompanhar de forma macro o desenrolar de todos os serviços. Tem ainda que procurar as soluções que lhe permitam implementar processos de controlo, medir variáveis e criar indicadores de performance para monitorizar níveis de serviço (Metodologia PDCA, Plan, Do, Check and Act). Por último, mas não menos importante, deverá ter a capacidade de elaborar um “pitch” convincente quando apresenta um projeto de investimento à administração ou ao proprietário, bem como, as competências necessárias para aplicar uma estratégia de valorização dos ativos.
Atualmente, a tecnologia tem um papel decisivo na gestão de ativos imobiliários e constitui um desafio estratégico transversal às Organizações, de restruturar a atividade na era digital. Não se trata de comprar uma tecnologia. A transformação digital é uma vantagem competitiva e estratégica, mas incontornável.
Não se trata simplesmente de atualizar a tecnologia, mas de renovar a visão do negócio. No entanto, este objetivo está longe de se atingir facilmente, quer por razões culturais e organizacionais de aversão à mudança, quer por dificuldades em dispor das competências tecnológicas, mas a maioria das vezes, também por falta de sentido estratégico.
Pedro Ló
W. Space Facility Management – Valuekeep Business Partner
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